Memorial Descritivo - Trajetória Escolar e a EaD


Morávamos em uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul chamada Caiçara quando fui à escola pela primeira vez. Ano de 1972, tinha apenas cinco anos e fui matriculada no “Jardim de Infância Nsa. Sra. Menina”. Era um colégio de freiras e tinha crianças de quatro a seis anos na mesma sala. Muita coisa aprendi naquele ano: as cores, os números, as vogais, a música “se você no céu”, a brincadeira “dança das cadeiras”. Acho que peguei a tesoura pela primeira vez lá, pois em casa a mãe não deixava. Ela era costureira e dizia que sua tesoura era muito afiada (sempre duvidei, pois ouvia seus resmungos quando, ao cortar uma "peça", sua tesoura ficava mastigando o tecido).
No ano seguinte fomos para o “Grupo Escolar Vicente Dutra” e embora não tivesse sete anos como todas as outras crianças, fui matriculada na 1ª série junto com minha irmã Sônia que, devido à ”Paralisia Infantil” (não tenho certeza), nasceu com os pezinhos deficientes; passou por várias cirurgias e estava sempre com pés e pernas engessados ou com um par de botas de ferro cheia de parafusos, por isso, precisava de alguém para acompanhá-la. Lembro que, embora estivesse lá como “companhia para a irmã”, aprendi muito rápido todas as letras e fui a primeira da sala a ler fluentemente. A professora ensinava de um jeito que eu achava muito fácil. Primeiro ensinou todas as letras e seus sons de “a” a “z”, depois foi só “juntá-las pronunciando o som apreendido e pronto, saía a palavra, a frase, o texto. Mas o meu negócio mesmo era brincar: falava muito alto, andava de carteira em carteira pra ver o caderno dos colegas todos arrumadinhos e limpinhos enquanto que o meu sempre cheio de “orelhas”. Jogava bolitas com os meninos, era a primeira a sair para o recreio e a última a entrar, pois só lembrava de ir ao banheiro depois do segundo “toque de entrada”. Não foram raras as vezes que minha mãe fora chamada e no boletim a mesma observação todos os bimestres: “conversar menos e melhorar a letra” (Não consegui cumprir nenhumas das duas até hoje). Nunca achei muita graça de ficar repetindo, repetindo os mesmos exercícios. Bom mesmo eram as brincadeira e os jogos com bola no pátio da escola. O que sempre levei à sério foi a minha função de “companheira da Sônia”, íamos e voltávamos juntas e quando algum "piá" malvado fazia gozação das botas que ela tinha que usar eu “assumia as dores” e não deixava escapar um. O último que se atreveu conosco levou tanta “lancheirada” que teve que correr pra não passar mais vergonha diante dos outros guris. Bom, da lancheira só sobrou as alças. Apanhei da mãe quando cheguei em casa, mas a Sônia estava “vingada”.
Da segunda e da terceira séries, lembro mais dos dias festivos, pois eu sempre estava à declamar uma poesia, à encenar um teatro, à interpretar um personagem. Até homenagem à professora no dia do seu aniversário era eu quem organizava e sempre tinha algumas colegas que seguiam minhas idéias. Na quarta série dois episódios marcaram demais minha vida. O primeiro foi a descoberta de um “tesouro” que ficava escondido dentro de um armário de madeira na nossa sala. Curiosa como sempre fiquei espiando pela frestinha do armário e vi algo que brilhava muito colorido. A professora curiosa como eu, veio espiar também e exclamou: “São livros de historinhas!” Era uma coleção dos Clássicos da Literatura Infantil. Com muito custo e lamentações pedidos e choradeiras conseguimos, com o consentimento da diretora, ter acesso às “relíquias”. Com a condição de que apenas a professora colocasse as mãos e os lesse sem atrapalhar o andamento do programa de aulas. Foi o meu primeiro contato com os contos de fadas. O segundo episódio foi um concurso lançado na escola para comemorar o Dia das Crianças. Os meninos deveriam confeccionar uma “pandorga” e as meninas uma boneca de pano. Fiquei eufórica, cheguei em casa procurando as sobras de pano no quarto de costura da minha mãe, escolhi alguns e com ajuda de uma prima mais velha conseguimos fazer a boneca. Não ficou muito bonita: os olhos ficaram muito grandes e um pouco fora do lugar, Os cabelos..., bem..., os cabelos foram disfarçados com um lenço colorido que pregamos na cabeça da boneca. Afinal, chegou o grande dia e muitas meninas chegaram com suas bonecas maravilhosas: algumas tinham cabeças de porcelana e vestidos com babadinhos, rendinhas e lacinhos outras com cabeças, mãos e pés de plástico, muito bem vestidas. Uma equipe passou analisando as obras de arte e eu via o olhar de admiração por todas aquelas bonecas bem costuradas e perfeitas. Mas qual não foi minha surpresa na hora em que a diretora anunciou o resultado: A minha boneca foi escolhida para o 1º lugar. Escutei quando a diretora justificou: “Esta foi feita por uma criança”. O melhor de tudo foi o prêmio recebido. Para os guris iam dar um jogo de “quebra cabeça” e para as meninas um pano de prato com o desenho de flores coloridas, o calendário do próximo ano e as palavras “Lojas Dalmolim”. Como os guris não fizeram nenhuma pandorga, a diretora resolveu dar o joguinho para o 1º lugar das meninas e a toalhinha para o 2º lugar. Adorei a idéia da diretora já que não achei graça nenhuma naquela toalhinha.
Com nove anos de idade já estava no “ginásio”. Muito feliz porque teríamos disciplinas separadas e entre elas Educação física. A mãe costurou um calção com elástico nas pernas (foi a coisa mais ridícula que usei em toda a minha vida). Reprovei na 5ª série na disciplina de Português. Justo eu que na 1 ª séria tinha sido a primeira a aprender a ler e a escrever. Até que eu fazia umas redações legais, mas reprovei por que não conjugava os verbos corretamente. E nem consideraram as notas altas de matemática! Esforcei-me mais nos próximos anos e cheguei ao Segundo Grau. A nova escola se chamava Escola Estadual de 2º Grau 20 de Setembro. Nesta época, com 15 anos de idade, já trabalhava de dia como empregada doméstica e estudava a noite. Participei da criação do Grêmio Estudantil e fiz parte da 1º diretoria. Com algumas promoções compramos materiais novos para as aulas de Educação Física. Com 17 anos prestei vestibular para o curso de Ciências Contábeis na FESAU – Faculdade de Ensino Superior do Alto Uruguai. Funcionava na cidade vizinha de Frederico Westphalem. Passei mas cursei 2 semestres e tranquei a matrícula.
Mudei para o Estado de Mato Grosso e nunca mais retomei o curso. Cursei o Magistério através do Projeto Logos II, no NEP – Núcleo de Educação Permanente, na cidade de Juína. Fiz apenas as didáticas das disciplinas e em menos de um ano já estava com o diploma. Prestei concurso e me efetivei no quadro docente da Rede Estadual do Mato Grosso. Doze anos mais tarde, morando na cidade de Juruena, tive oportunidade de cursar o nível superior. Uma extensão da UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso se instalou na região através do NEAD – Núcleo de Educação a Distância e um grupo de 500 (quinhentos) professores que tinham apenas o nível médio puderam entrar para o “Curso de Licenciatura Plena de Educação Básica de 1ª A 4ª Séries”. Embora há tanto tempo sem estudar, passei em 2ª lugar no vestibular. Iniciamos o curso no ano de 2000 e em 2004 a turma se formou. Um ano e meio antes da formatura pedi transferência do curso, pois estava mudando para cidade de Campo Grande no Mato Grosso do Sul. Mesmo com a transferência em mãos não consegui vaga no curso de Pedagogia na UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Em 2003 prestei vestibular para o Curso Normal Superior (semi-presencial) na UEMS – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. Passei mas não efetivei a matrícula, pois estava viajando e não consegui chegar à tempo. Prestei novamente o vestibular para o mesmo curso na UEMS, entrei na turma em 2005 e me formei em 2008.
Hoje estou cursando a 2ª especialização: “Metodologias e Gestão para Educação a Distância ” - Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande, a primeira conclui em 2009: Mídias na Educação - UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, ambas na modalidade a distância.

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